Oito conselhos para investidores em ações de primeira viagem
Investir no mercado de ações traz oportunidades de ganhar mais do que na renda fixa e, ao mesmo tempo, diversificar os investimentos. A bolsa é popular nos Estados Unidos e em outros países, mas, no Brasil, ainda fica restrita a um universo pequeno, uma elite de investidores. E não é difícil encontrar pessoas com experiências ruins com ações, muitas vezes pela falta de preparo e conhecimento para investir. Esse despreparo transforma uma oportunidade num trauma, já que uma decisão equivocada pode levar o investidor a perder muito dinheiro. Dentro desse universo de acertos e erros, várias pessoas olham os ganhos recentes da bolsa, com altas de até 20% no mês, e fazem planos para entrar no mercado financeiro e se tornar milionários. Mas é nesses momentos de alta, quando a bolsa chama mais a atenção, que o risco é maior para quem não entende e entra na hora do mercado realizar lucros e cair. Os mais responsáveis, porém, vão antes se preparar e estudar a melhor forma de não se frustrar comprando a coisa errada na hora errada. E, nessa fase inicial de imersão no mundo das bolsas de valores, diversas dúvidas vão surgindo e acabam confundindo ainda mais a cabeça desses futuros investidores. Devo focar em empresas grandes ou pequenas? Escolher ações preferenciais ou ordinárias? Investir em bancos e fugir das estatais? Pensando nesse universo de dúvidas e dilemas, convidamos o consultor da Eleven Financial Research, Adeodato Netto, e o Coordenador do Mestrado Profissional em Economia da FGV, Ricardo Rochman, para explicar em sete conselhos alguns elementos básicos do mercado de ações e ajudar a tirar as dúvidas daqueles que pensam em começar a investir. 1) Bolsa é investimento para longo prazo A primeira ideia falsa é que a bolsa é um eterno jogo de compras e vendas constantes, diz Adeodato Netto. Esse tipo de estratégia é para profissionais, que podem se dedicar inteiramente ao mercado de ações. Para os demais, Adeodato afirma que a bolsa de valores deve ser encarada como uma opção de longo prazo. “A pessoa precisa esquecer aquela ideia de movimentação constante, de comprar e vender. A construção do lucro na bolsa demanda tempo, e não adianta jogar com a questão da volatilidade”. É preciso também paciência e disciplina. Muitas vezes, ao vender uma ação porque o mercado está ruim, o investidor perde um movimento de alta inesperado, ou compra no momento em que o mercado está prestes a cair. Outro ponto importante é compreender que, quando se investe em renda variável, não há garantia qualquer de rentabilidade. Por isso, vale ressaltar que o dinheiro que se vai investir tem de ser de longo prazo, não pode ser aquela renda que você precisará no curto prazo para cobrir possíveis gastos. E longo prazo quer dizer anos. Trabalhe com a sua segurança financeira em primeiro lugar e, o que sobrar, que puder ficar para aposentadoria, por exemplo, pode ir para a bolsa. 2) Defina o tipo de ação Ricardo Rochman ressalta a importância de estar sempre atento ao tipo de ação que você pretende comprar. “É necessário conhecer os aspectos específicos da ação que você quer investir”, diz. A ação vale pelos direitos e obrigações que ela possui, e pode ser preferencial ou ordinária. Uma ação preferencial não dá direito a voto nas assembleias, mas, segundo Rochman, possibilita receber um dividendo superior aos das ações ordinárias, que dão direito a voto e com isso permitem participar da gestão da empresa. Vale ressaltar que, mesmo no caso das ações ordinárias, o direito a participar das decisões em algumas empresas é limitado. É o caso da Petrobras, pois a maioria das ações estão nas mãos do governo federal. Logo, as decisões e a gestão da petroleira cabem somente a ele. Os demais acionistas são chamados de minoritários, pois não participam do controle. Nesse caso, ter uma ação ordinária não é tão relevante para o investidor, pois com o controle do governo, a participação desse voto é nula. Há um risco na ação preferencial, que é no caso de a empresa ser vendida e não prever que o prêmio de controle será dividido com os donos de PN. Nesse caso, o valor pago iria para os donos de ações ON apenas, o que desvaloriza as PN. Foi o que aconteceu com a Ambev e pode ocorrer com empresas antigas, que ainda têm 75% de ações preferenciais e 25% ordinárias. 3) Conheça a companhia em que se está investindo Uma das medidas mais importantes na hora de investir é conhecer profundamente a empresa cujas ações se vai comprar. Pesquise dados financeiros, balanços, perspectivas de investimentos e a estrutura financeira da companhia. Certifique-se de que a empresa é lucrativa, possui uma boa gestão e seja sólida. Para Ricardo Rochman, nessa fase de pesquisa “é importante entender que o que move o preço de uma ação de determinada empresa é o seu desempenho, sua rentabilidade e seu comportamento em relação ao setor e à economia nacional”. 4) Quantas ações comprar? Rochman destaca também que a quantidade de ações que o investidor vai comprar também é importante. Para aqueles que estão começando, o ideal seria optar pela compra de 2 a 3 ações. “Depois que o investidor passar desse estágio inicial de reconhecimento do mercado, ele pode ampliar suas compras. No Brasil, para montar uma carteira bem diversificada são necessárias 10 ações de setores/portes diferentes. Nos Estados Unidos o número é 15 ações”. 5) Liquidez e estratégias Ao iniciar no mercado, o novo investidor deve definir que perfil ele vai adotar para investir em ações, dependendo do tempo que poderá dedicar para acompanhar o mercado e do horizonte de retorno nesse processo. Ricardo Rochman e Adeodato Netto apresentam duas linhas diferentes que vão determinar o tipo de empresa e de estratégia para o investidor. Para Rochman, o novo investidor, pensando em estratégias que durariam de 3 a 5 anos, deve escolher as ações de grandes empresas, que sejam sólidas e que tenham um bom nome no mercado. Para ele, o fator liquidez é muito importante e o investidor deve buscar ações com essa característica. Liquidez é o volume