Macrotendências: mudanças em curso, por Luiz Alberto Machado

Iniciei minhas apresentações nas últimas palestras e lives sobre realidade e perspectivas econômicas focalizando macrotendências. Afinal, considerando o dinamismo do processo evolutivo, cujo ritmo parece cada vez mais alucinante, e as oscilações da conjuntura mundial, é natural que determinados aspectos, países ou regiões ganhem importância, enquanto outros perdem. Nessa linha, cinco aspectos vinham sendo focalizados, por serem por mim considerados indispensáveis a qualquer análise prospectiva: Um mundo com acesso generalizado à informação; O peso cada vez maior das economias asiáticas; O aumento da desigualdade; O recrudescimento da violência e do terrorismo; A islamização da agenda. Quanto aos três primeiros, não vejo qualquer razão para alterações. Saímos de uma realidade em que o acesso à informação era um handicap e passamos a viver numa realidade em que o acesso à informação é generalizado, imediato e de fácil acesso. O grande desafio é saber o que fazer com a informação: selecionar, processar e aplicar às suas necessidades. Há algumas décadas, o bom desempenho das economias de países asiáticos tem chamado a atenção do mundo. Primeiro foi o Japão, que conseguiu superar as enormes dificuldades ocasionadas pela derrota na Segunda Guerra Mundial e se transformar numa das maiores potências econômicas do planeta na década de 1970. Em seguida, houve grande repercussão do acelerado crescimento de algumas economias do sudeste asiático, que se tornaram conhecidas pelo nome de Tigres Asiáticos: Coreia do Sul, Singapura, Hong Kong e Taiwan. Com o excepcional crescimento econômico posterior às reformas introduzidas por Deng Xiaoping em 1978, suficientes para transformá-la na segunda maior economia do mundo e maior parceira comercial do Brasil, é natural que as atenções tenham se voltado para a China, que se tornou “a bola da vez”. Isso fez com que o desempenho econômico de outro grande país da região, tanto em extensão territorial como em população, tenha passado quase despercebido, a Índia, que chegou a ter alguns anos de crescimento econômico superior aos da China, embora com acentuadas desigualdades, como observam Jean Drèze e Amartya Sen no livro Glória incerta. A desigualdade, por sua vez, é um tema que tem preocupado cada vez mais as lideranças políticas internacionais, as agências multilaterais e os analistas econômicos. Tal desigualdade não se revela apenas entre as nações, mas também, e principalmente, dentro de cada uma delas. Entre os economistas mais influentes da última década (2011-2020), vários se destacaram por concentrar suas pesquisas em questões relacionadas à desigualdade. Evidência clara disso é que o maior sucesso editorial do período foi o livro O capital no século XXI, de Thomas Piketty. Com relação às duas últimas macrotendências, que podem ser vistas tanto em separado como em conjunto, dada sua razoável complementaridade, tenho me deparado com informações que me obrigam a fazer algumas reflexões. O recrudescimento da violência e do terrorismo tem sido examinado por especialistas de diversas áreas do conhecimento, tais como Direito, Sociologia, Psicologia, Antropologia, Economia, Ciência Política, Relações Internacionais etc. Particularmente, no entanto, gosto muito da abordagem de Moisés Naím, editor da revista Foreign Policy, em razão de sua abordagem interdisciplinar. No livro Ilícito, Naím destaca dois fatores com muita propriedade: (i) a ação articulada de criminosos de diferentes países, notadamente nas práticas de pirataria, lavagem de dinheiro e tráfico, naquilo que ele chama de “globalização do mal”; (ii) a falta de articulação dos grupos encarregados de reprimir tais crimes, cuja ação foi por muito tempo isolada e desarticulada. A combinação desses dois fatores fez com que os criminosos ficassem por muito tempo muito à frente de seus repressores na corrida da violência e do terrorismo. Essa corrida, aliás, ganhou um componente de enorme relevância nas relações internacionais a partir de 2001, em função do devastador impacto dos ataques terroristas do 11 de setembro e do tipo de reação que despertou no governo de George W. Bush. A reação de Washington tomou a forma predominante de uma resposta militarizada, incapaz de lidar de modo eficaz com um desafio complexo que requer variedade de abordagens, cujo legado se estende até os dias de hoje. Como observou o embaixador Rubens Ricupero: “A militarização da diplomacia foi acompanhada de retórica política que utilizou no começo a imagem explícita de uma cruzada antimuçulmana. Manipulou-se, ao mesmo tempo, o medo da população à repetição dos atentados como instrumento de geração de poder dentro dos Estados Unidos, criando a impressão de que se havia desencadeado uma ‘nova Guerra Fria’ ou uma ‘longa guerra’ contra inimigos identificados como fundamentalistas islâmicos”. Além dos problemas gerados por essa visão deturpada e generalizada dos muçulmanos, muito bem retratada no filme Nova York sitiada, observa-se um retrocesso em áreas antes consideradas como avanços irreversíveis da globalização, entre as quais podem ser citadas as restrições à livre circulação de viajantes e as restrições ao despacho de contêineres de mercadorias. Um aspecto que despertou atenção nas ações criminosas e terroristas foi a sua execução muito bem organizada, refletindo a existência de grupos que coordenavam competentemente tais ações. O mais conhecido deles foi a Al Qaeda, liderada por Osama Bin Laden e seu parceiro Ayman al-Zawahiri, que transformaram o islamismo político num islamismo militante por entenderem não só que era a única maneira de derrubar as ditaduras do mundo árabe, mas também por incitarem o terrorismo contra a superpotência que os apoiava, ou seja, os EUA. Em artigo publicado no dia 2 de maio no jornal O Estado de S. Paulo[1], o jornalista e cientista político Fareed Zakaria alerta para duas mudanças importantes verificadas nos últimos tempos, capazes de exigir uma nova interpretação da realidade e, por extensão, uma nova maneira de encarar e enfrentar a situação. A primeira diz respeito ao caráter localizado do terrorismo islâmico. Para Zakaria: “O terrorismo islâmico hoje tende a ser local, o Taleban no Afeganistão, o grupo Boko Haram na Nigéria, o Al-Shabab no Chifre da África. É uma grande reversão dos dias de glória da Al-Qaeda, quando seus líderes insistiam que o foco deveria estar não no ‘inimigo próximo’ (os regimes locais), mas no ‘inimigo distante’ (os Estados Unidos e o Ocidente num sentido
Fôlego novo para a equipe econômica? por: Luiz Alberto Machado

Em março, ficamos sabendo que o crescimento negativo de 4,1% registrado em 2020 havia colocado o Brasil no 21° lugar num ranking de 50 países, segundo pesquisa da agência de risco Austin Rating. Longe de merecer comemoração, por se tratar do 3° pior desempenho da história, o resultado foi bem melhor do que as previsões de alguns meses antes, que apontavam para uma queda em torno de 8% ou mais do PIB. Com o resultado, mesmo com o Brasil saindo do grupo das 10 maiores economias do mundo, ficou a sensação de que as coisas poderiam ter sido muito piores, não fosse a recuperação ocorrida nos dois últimos trimestres de 2020. Essa recuperação deixou uma perspectiva favorável para 2021, frustrada logo no primeiro trimestre graças ao recrudescimento da pandemia do novo coronavírus e às medidas de restrição adotadas em todo o País para evitar que a crise na área da saúde levasse a um caos generalizado. Para os que viram o resultado olhando a parte cheia do copo, ficou uma sensação de alívio. Porém, numa época caracterizada por forte polarização, não foram poucos os que viram o resultado olhando a parte vazia do copo, razão pela qual choveram críticas â condução da política econômica por parte da equipe econômica liderada por Paulo Guedes. Com a saída de alguns importantes integrantes da equipe em março e abril, cresceram os rumores em torno da iminente saída do ministro de maior prestígio desde o início do governo do presidente Bolsonaro. Diante dessa situação, a divulgação do resultado da balança comercial não poderia ter chegado em melhor hora. O mês de abril revelou uma série de recordes no comércio exterior brasileiro, começando pelo superávit de US$ 10,35 bilhões – o maior valor absoluto na comparação com qualquer mês do ano, desde o início da série histórica em 1997 – fortemente impulsionado pelo crescimento de 67,9% em relação a abril de 2020. As exportações também bateram recorde, com aumento de 50,5%, alcançando US$ 26,48 bilhões. Já as importações no mês atingiram US$ 16,13 bilhões, uma alta de 41,1%, com o quinto maior valor para meses de abril. Assim, a corrente de comércio subiu 46,8%, alcançando US$ 42,61 bilhões no período, o que também representa um recorde, mas apenas para os meses de abril. Esses dados, divulgados no último dia 3 de maio pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, liderada pelo competente Roberto Fendt, deram novo ânimo ao ministro Paulo Guedes, que jamais deixou de acreditar numa recuperação da economia brasileira em 2021, mesmo num cenário caracterizado por elevado grau de incerteza tanto no plano local, como no internacional. Essa expectativa positiva do ministro terá mais chance de se confirmar caso a agenda de reformas estruturantes e o programa de privatizações avancem num ritmo mais acelerado do que o verificado nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro. A conferir. Luiz Alberto Machado Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e diretor adjunto do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon.
Valor da ação na BOVESPA ou geração de Valor ao acionista?

Para investidores institucionais ATIVOS na década de 90 e início de 2.002 havia consideravelmente menos conhecimento sobre a geração de VALOR para o acionista e muito mais ceticismo sobre o valor das ações nas Bolsas de Valor. O Ágio decorrente da valorização de um ATIVO superior ao Real VALOR intrínseco levou o mercado a um verdadeiro colapso que trouxe perdas irreparáveis aos investidores das BOLSAS de VALOR. Porém, a procura por administradores que incorporam conceitos de medidas de VALOR para o acionista ao planejamento financeiro e avaliação geral ao desempenho do negócio, tem fomentado a busca por estes profissionais ao mesmo nível que “compradores” das ações nas BOLSAS DE VALOR. O modelo racional continua a se fortalecer na maneira pela qual participantes racionais avaliam o VALOR de um ATIVO em uma economia baseada em mercado. A procura por profissionais que atuam na controladoria das empresas com mentalidade GBV (gestão baseada em valor) tem sido um incentivo a JOVENS UNIVERSITÁRIOS que desejam atender a nova demanda em busca destes JOVENS PROFISSIONAIS. Prof. Alexandre Wander Gecompany o canal amigo do JOVEM UNIVERSITÁRIO. Inscreva–se e compartilhe. https://www.instagram.com/p/CMEL-VAFKgg/?igshid=14m63e3nqwmev
O cuidado ao investir em ações.

Tudo bem afinal de contas o dinheiro é teu. Mas investir em ações requer técnica e cuidado e se me permite; alguns compram através do impulso, ou indo um pouco mais além: através da “compra sega” com alguém segurando e guiando o que fazer. A promessa do enriquecimento rápido deve ser melhor analisada, pois temos diversas variáveis que refletem no VALOR das ações da BOLSA DE VALOR. Atualmente, temos 2 tipos de pensamentos, mas que não se entrelaçam entre si: A análise fundamentalista e a análise técnica. A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA avalia: O que comprar e o que vender. A ANÁLISE TÉCNICA avalia: Quando comprar e quando vender. A ANÁLISE FUNDAMENTALISTA tem como técnicas os conceitos acadêmicos na análise do que comprar ou vender, e indicadores amplamente avaliados no MUNDO acadêmico são colocados a teste no processo da avaliação de uma ação. A ANÁLISE TÉCNICA tem como técnicas conceituais de análise gráfica na análise do que comprar ou vender, e indicadores avaliados no MUNDO do MERCADO são colocados a teste no processo da avaliação de uma ação. Os conceitos da ANÁLISE FUNDAMENTALISTA em seus indicadores FINANCEIROS e ECONÔMICOS são amplamente aceitos no MUNDO acadêmicos nas defesas das monografias, dissertações e teses de doutorado. Já os conceitos da ANÁLISE TÉCNICA ou GRAFISTA enfrentam algumas restrições quanto a aceitação nas UNIVERSIDADES. No meu parecer a ANÁLISE FUNDAMENTALISTA está mais ligada em avaliar “como os administradores constroem VALOR aos acionistas” e a ANÁLISE TECNICA representa uma visão imediata de como os administradores estão enxergando os administradores das EMPRESAS. A FUNDAMENTALISTA é de longo prazo e mais consistente ; a TÉCNICA mais imediatista. Fique ligado nas nossas redes, pois continuaremos a postar conceitos das análises FUNDAMENTALISTA e TÉCNICA. Por escrever isto; você já viu nossos posts das análises FUNDAMENTALISTA de algumas empresas da BOVESPA: Petrobrás, Ambev e Klabin? Durante estes dias estaremos colocando a ANÁLISE FUNDAMENTALISTA de alguns BANCOS. Prof. Alexandre Wander Gecompany o canal amigo do JOVEM UNIVERSITÁRIO. Inscreva-se e compartilhe. https://www.instagram.com/p/CL2gjv0heIo/?igshid=14ho0iujb3fzk
Aprendendo com as grandes marcas: A Missão da Starbucks

Nesta versão, Howard Schultz celebra o espírito humano baseada na filosofia Central do negócio na experiência do cliente. ” Queríamos que a nossa MISSÃO Starbucks respeitasse o nosso passado e focalizasse em como vivemos a Missão todos os dias através do nosso café, associados ( funcionários), clientes, lojas, vizinhança e acionistas. Nós também queríamos capturar não somente os aspectos duradouros dos nossos Princípios Orientadores, mas também articular o que nós enxergamos como mais importante para o nosso futuro “. Uma boa reflexão se você já fez a MISSÃO da tua EMPRESA, ou se ainda NÃO fez. Prof. Alexandre Wander. Gecompany o canal amigo do EMPRESÁRIO e do JOVEM EXECUTIVO. Inscreva-se, Inspira-se e Compartilhe!!!!! https://www.instagram.com/p/CLuO04YjC-v/?igshid=ux1429f8bx90
Estruturando tua empresa para o futuro.

Definir os alicerces de uma EMPRESA é fundamental para o sucesso contínuo e isto deve ser feito independente do tamanho da EMPRESA. Vou mais longe; até mesmo a PESSOA FÍSICA tem os seus valores; sua MISSÃO e visão em relação a VIDA e quando nos identificamos com estas premissas, nos tornamos mais humanos, menos egoísta e deixamos de trabalhar pelo dinheiro e sim pela nossa existência em cumprir a nossa MISSÃO. De volta ao mundo EMPRESARIAL: Para surtir efeito a MISSÃO precisa ser definida pela principal pessoa da EMPRESA; O fundador, o sócio majoritário, o principal executivo; pois foi a pessoa que se doando idealizou o NEGÓCIO . Após definida a MISSÃO, para surtir efeito, ela precisa ser vivida pela organização; pois é a crença principal da companhia e precisa ser conhecida e energizado por todos os funcionários, sem exceção. Somente a partir dai, se elabora a VISÃO, onde quer chegar e também os OBJETIVOS ou METAS a serem atingidas pelas GERENTES DEPARTAMENTAIS. Dai sim, formatado o PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO e convertido ao PLANEJAMENTO OPERACIONAL, finalmente a EMPRESA terá um bom roteiro a SEGUIR. Nota: É função do CONTROLLER a transformação do PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO ao PLANEJAMENTO OPERACIONAL. Então vamos lá, meu amigo de PROFISSÃO. Prof. Alexandre Wander Gecompany o canal amigo do EMPRESÁRIO e do JOVEM EXECUTIVO. Inscreva-se e compartilhe!!!! https://www.instagram.com/p/CLuJ_5iDy9G/?igshid=1shpgmvncgthy
Rumo à autonomia do Banco Central, por: Luiz Alberto Machado

A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 10 de fevereiro, o Projeto de Lei Complementar (PLP) 19/2019, que confere autonomia ao Banco Central. Como o projeto já teve a aprovação do senado e os deputados não alteraram o texto dos senadores, a proposta segue para sanção presidencial. Sendo de interesse do governo, foi a primeira votação relevante sob a presidência do deputado Artur Lira, que teve o apoio do presidente Jair Bolsonaro na eleição para a presidência da Câmara realizada no início de fevereiro. A aprovação ocorreu por ampla margem, com 339 votos a favor e 114 contrários, fato que foi interpretado por muitos analistas como um indicador de que o governo terá mais facilidade de aprovar projetos de seu interesse do que tinha sob a presidência de Rodrigo Maia. Examinando por outro ângulo, pode-se dizer que essa ampla margem chega a surpreender, uma vez que a autonomia operacional do Banco Central é um tema bastante polêmico e que costuma provocar acentuada divisão de opiniões. Conhecido popularmente como “guardião da moeda”, o Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB) foi criado em 31 de dezembro de 1964, como parte das medidas adotadas pelo governo de Castelo Branco para pôr ordem na economia e modernizar o sistema financeiro. Suas funções básicas são[1]: Monopólio de emissão; Banco dos bancos; Banqueiro do governo; Supervisor do sistema financeiro; Executor da política monetária; Executor da política cambial; Assessor econômico do governo. Se o projeto que confere autonomia ao Banco Central for sancionado pelo presidente da República, o Banco Central estará, como observa Celso Ming, “protegido da ação predatória dos políticos, que só pensam em gastar”.[2] Um dos motivos dessa blindagem reside na maior segurança dos diretores do Bacen, que passam a ter mandato fixo não coincidente com o dos principais cargos da República, além de não poderem ser demitidos a não ser por grave deslize. Como já mencionei, a autonomia operacional do Banco Central está longe de se constituir em ponto de consenso entre os economistas. Entre os que são favoráveis à autonomia, encontram-se economistas de orientação mais ortodoxa[3] que, via de regra, defendem reduzida intervenção governamental na economia, rigorosa estabilidade monetária e equilíbrio orçamentário. Para tanto, o Banco Central tem papel fundamental na condução das políticas monetária e cambial, cabendo muitas vezes a ele neutralizar eventual flexibilidade na condução da política fiscal, que pode ter perigoso impacto inflacionário. Já entre os opositores da autonomia estão muitos economistas alinhados a posições mais heterodoxas[4], defensores de um maior protagonismo do Estado na gestão econômica e que admitem a necessidade de déficits orçamentários e até de alguma inflação na busca por maiores taxas de crescimento econômico. Há também alguns mais radicais que se opõem à sua própria existência, como é o caso dos adeptos da Escola Libertária, também conhecidos como anarco-capitalistas. Posição muito próxima é a de Friedrich Hayek, um dos grandes expoentes da Escola Austríaca e ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 1974, que defende o fim do monopólio de emissão, tendo inclusive um livro voltado a essa ideia, no qual se lê: Temo que – desde que a propaganda “keynesiana” se infiltrou nas massas, tornando a inflação digna de respeito e fornecendo aos agitadores argumentos que os políticos profissionais são incapazes de refutar – a única maneira de impedir que uma inflação contínua acabe por nos levar a uma economia controlada e dirigida – e, portanto, em última instância, a única maneira de salvar a civilização – seja privar os governos de seu poder sobre a oferta de moeda.[5] Aos que argumentam que essa decisão seria dispensável, uma vez que o Banco Central já atua com razoável grau de autonomia, eu gostaria de lembrar que isso só ocorre quando há entrosamento entre o governo e a área econômica e, no limite, entre os diferentes integrantes da área econômica. Tivemos, no passado recente, alguns exemplos no Brasil, em que a falta de autonomia do Banco Central deixou sequelas graves. Uma delas se deu quando o governo determinou, com absoluto grau de voluntarismo, a redução da taxa básica de juros. Observava-se, nesse período, no governo de Dilma Rousseff, um racha na equipe econômica liderada por Joaquim Levy. Na ocasião, muitas ações do presidente do Banco Central Alexandre Tombini eram publicamente criticadas por integrantes de outros departamentos da área econômica, provocando forte desorientação do mercado e perda de confiança dos agentes econômicos, combinação perfeita para afugentar investimentos internos e externos. Cabe destacar, por fim, que a autonomia operacional do Banco Central, que já existe – há mais ou menos tempo – em muitos dos países não é garantia de 100% de blindagem nem de boa condução da política econômica. A Argentina é prova disso. Lá, a autonomia do Banco Central foi aprovada em 1995, porém, as constantes ingerências do Poder Executivo, que continuam a existir, resultaram na perda de confiança do mercado e falta de credibilidade da instituição para definir a política monetária, o que explica em grande parte o descontrole da inflação. Por: Luiz Alberto Machado Economista, graduado em Ciências Econômicas pela Universidade Mackenzie, mestre em Criatividade e Inovação pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal), é sócio-diretor da empresa SAM – Souza Aranha Machado Consultoria e Produções Artísticas e diretor adjunto do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial. Foi presidente do Corecon-SP e do Cofecon. [1] 7 funções do Banco Central. Disponível em https://financeone.com.br/7-funcoes-do-banco-central-do-brasil/. [2] MING, Celso. A blindagem do Banco Central. O Estado de S. Paulo, 12 de fevereiro de 2021, p. B2. [3] MACHADO, Luiz Alberto. Ortodoxia X Heterodoxia. Disponível em https://espacodemocratico.org.br/artigos/ortodoxia-x-heterodoxia/. [4] KAHN, Tulio; MACHADO, Luiz Alberto (organizadores). Interpretações do Brasil – Tradicionais e novas abordagens históricas, econômicas e diplomáticas. São Paulo: Scriptum Editorial, 2018. [5] HAYEK, Friedrich. Desestatização do dinheiro. Tradução de Heloísa Gonçalves Barbosa. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1986. Gecompany o canal amigo do jovem universitário – Inscreva-se e compartilhe.
O essencial e o acessório: O fim da operação Lava Jato, por Luiz Alberto Machado

Em 1984 ocorreu uma ampla reforma curricular nos cursos de ciências econômicas que instituiu uma série de mudanças a serem obedecidas por todos os cursos ministrados no Brasil para quem ingressasse a partir de 1985. Dentre as mudanças da referida reforma, uma das mais significativas foi a exigência de uma monografia que cada estudante deveria apresentar ao final de seu curso, sob a orientação de um professor, como pré-requisito indispensável para a obtenção do diploma de graduação. Uma das consequências dessa exigência foi a criação de uma disciplina que preparasse os estudantes para a preparação da monografia. Chamada, em muitas instituições, de Metodologia Científica e Técnicas de Pesquisa em Economia (algumas optaram por duas disciplinas, uma voltada para questões teóricas de filosofia da ciência e outra para o passo a passo da elaboração de um texto acadêmico), transformou-se rapidamente numa das disciplinas menos apreciadas pelos estudantes. Se fosse feita uma pesquisa para saber qual a disciplina mais odiada do curso, seguramente ela ganharia com folga. Acompanhei, como professor, essa fase de transição que, diga-se de passagem, ocorreu em diversos outros cursos, à medida que trabalhos de conclusão de curso (TCC) iam se tornando obrigatórios. Fui testemunha da enorme dificuldade que os professores responsáveis por ministrar a referida disciplina tiveram para motivar seus estudantes, muitos dos quais imaturos e incapazes de perceber a importância da mesma. Só no momento de se defrontarem com a elaboração da monografia, normalmente no último ano do curso, é que os estudantes se davam conta da relevância daquela disciplina e, nessa hora, lamentavam não tê-la cursado com a devida seriedade. Coube-me, por muitos anos, em minha jornada de professor, a responsabilidade de orientar estudantes em suas monografias. Nessas oportunidades, constatava diversos aspectos do despreparo de muitos para realizar aquela etapa imprescindível de sua formação. Evidentemente, estudantes que tinham tido bom desempenho ao longo do curso, encontravam menos dificuldade: já haviam pensado previamente no tema de sua monografia, acumulado suficiente volume de fontes de pesquisa e definido um foco bem delimitado do que deveriam incluir no texto, sabendo claramente separar essencial (tudo que é importante e não pode faltar) e acessório (aquilo que desempenha papel secundário). Os menos preparados, por sua vez, tendiam a se dispersar, gastando tempo e energia em aspectos acessórios e deixando na superficialidade o que era essencial. Por que essa longa peroração? Pois foi exatamente o que senti nos últimos meses acompanhando debates e discussões a respeito da Operação Lava Jato, enfim extinta formalmente em decorrência do processo de “correção de rumos” no MPF que o procurador-geral da República, Augusto Aras, encampou ao assumir o cargo. Grande parte dos argumentos dos envolvidos nas discussões concentrava-se em eventuais desvios ou exageros cometidos ao longo dos processos conduzidos pela força-tarefa sediada em Curitiba, constituída por membros do Ministério Público Federal (MPF), da Polícia Federal (PF) e da Receita Federal, criada há quase sete anos, e não no extraordinário benefício trazido ao Brasil e à imagem externa do País em razão dos resultados atingidos no combate à corrupção e à impunidade de figuras poderosas da política e dos negócios, que, até então, sentiam-se acima da lei e da ordem. Na minha perspectiva – que pode perfeitamente estar equivocada – tratava-se de uma clara confusão entre o essencial, que era tornar o Brasil um país melhor através de um duro combate à corrupção e à impunidade, e o acessório, representado por eventuais exageros praticados pelos membros da força-tarefa na tentativa de chegar ao objetivo maior. Diante disso, não me causou surpresa a decisão da extinção da Operação Lava Jato. Afinal, parece-me claro que além dos alegados eventuais desvios e exageros, pesaram muito mais os interesses de políticos – tanto do governo como da oposição – e de empresários punidos ou ameaçados de o serem graças ao trabalho da força-tarefa. Resta-me a esperança de que o combate à corrupção não seja interrompido com a extinção da Operação Lava Jato, como foi prometido pelo procurador-geral, que afirmou que os casos em andamento sob os cuidados da antiga força-tarefa continuarão a ser investigados, mas sem dedicação exclusiva dos procuradores que compunham a força-tarefa de Curitiba, os quais, desde o dia 1° de fevereiro, passaram a fazer parte do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) criado no MPF do Paraná. Caso isso não ocorra, chegarei à triste conclusão de que, uma vez mais, prevaleceram os interesses daqueles que não estão nem um pouco preocupados com o aperfeiçoamento das nossas instituições e com a construção de um país mais sério. *O autor é economista, mestre em Criatividade e Inovação, e conselheiro do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial Artigo publicado no jornal: Gazeta do Povo de Curitiba
Inteligência artificial x Empregabilidade: Por: Luiz Alberto Machado – Diretor adjunto na Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial

Um dos grandes desafios enfrentados pelo Brasil e por diversos países neste início de ano consiste em reduzir o nível de desemprego, em muitos casos agravado pela pandemia do coronavírus que assolou o mundo todo no ano passado. O desafio, que é por si mesmo extremamente árduo, ganha contornos ainda maiores se levarmos em conta que estamos vivendo mais uma revolução tecnológica, na qual a tecnologia da informação (TI) e a inteligência artificial (IA) são responsáveis pelo surgimento de máquinas, plataformas e equipamentos capazes de fazer uma série de coisas que dependiam de trabalho humano, pondo em risco a continuidade de muitas profissões e ocupações. Longe de se constituir em novidade, o tema – já bastante focalizado – costuma voltar à tona por ocasião das revoluções tecnológicas. É exatamente o que está ocorrendo agora, com a publicação de novos livros e artigos, bem como da revisitação a publicações mais antigas. Por se tratar de tema polêmico, divergências são comuns, chegando, não raras vezes, a posições extremadas, o que não chega a causar surpresa se considerarmos, como mencionado na orelha do livro “Boa economia para tempos difíceis”, de Abhijit Banerjee e Esther Duflo, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia em 2019, que “vivemos numa época de crescente polarização, na qual ignorância, achismos, ideologia e inércia muitas vezes se articulam para nos dar respostas que parecem plausíveis e promissoras, mas que comumente são construídas sobre os ombros da má economia”. Para dar início ao exame do tema, vou recorrer a Steven Davis, professor da Escola de Administração da Universidade de Chicago. No livro “Job creation and destruction”, juntamente com os coautores John Haltiwanger e Scott Schuh, ele sustenta a hipótese de que, a não ser em situações excepcionais, o volume de empregos que surgem é sempre muito próximo ao de empregos que desaparecem, embora os últimos tenham muito mais repercussão do que os primeiros. Feitas essas considerações preliminares, cabem, de imediato, duas perguntas: períodos de revoluções tecnológicas podem ser considerados excepcionais? uma pandemia como a que estamos enfrentando não se constitui numa situação anormal? Independentemente das respostas a essas perguntas, gostaria de mencionar alguns pontos de vista sobre o tema. Começo por autores que possuem uma visão quase catastrofista, como Paul Ormerod e Jeremy Rifkin, autores, respectivamente, de “A morte da economia” e “O fim dos empregos” , previram, em plena década de 1990, um cenário muito complicado, que combina prolongada crise econômica e desemprego generalizado. Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006, também sustentou recentemente uma posição muito próxima. Numa entrevista publicada no jornal O Estado de S. Paulo em dezembro de 2020, acerca dos efeitos da pandemia da Covid-19, afirmou: “A política deveria ser a de não voltar para aquele mundo, porque ele estava levando para o fim da existência da humanidade em função do aquecimento global, da concentração de riqueza e da invasão da inteligência artificial”. Já entre autores que se debruçaram sobre diferentes aspectos da revolução tecnológica em curso, ouso destacar Klaus Schwab, criador do Fórum Econômico de Davos, autor do livro “A quarta revolução industrial” , e um dos maiores pensadores da atualidade, Yuval Harari, autor dos best sellers “Sapiens”, “Homo Deus” e “21 lições para o século 21” . Ambos não se detiveram apenas ao impacto da revolução tecnológica sobre o emprego, mas, de forma mais ampla, aos dilemas gerados por uma realidade desconhecida ou ainda incipiente, decorrente da Quarta Revolução Tecnológica (ou Indústria 4.0), dominada pela inteligência artificial (IA), robótica, internet das coisas (IoT na sigla em inglês), big data, veículos autônomos, impressão em 3D, nanotecnologia, biotecnologia, ciência dos materiais, armazenamento de energia e computação quântica, para citar apenas algumas inovações. Numa conversa com Luciano Huck publicada em abril do ano passado no jornal O Estado de S. Paulo , Harari reconheceu que a crise desencadeada pela pandemia acelerou mudanças que se encontravam em andamento e, mesmo admitindo que “o futuro não está predeterminado”, é possível afirmar que “assim como as convulsões da Revolução Industrial deram origem às novas ideologias do século XX, as próximas revoluções na biotecnologia e na tecnologia da informação exigirão novas visões e conceitos”. Sendo assim, conclui, “as próximas décadas serão, portanto, caracterizadas por um intenso exame de consciência e pela formulação de novos modelos sociais e políticos”. Quem também se referiu às mudanças que já vinham ocorrendo e que foram aceleradas pela pandemia foi o Prof. José Pastore, que, num Diálogo no Espaço Democrático, ponderou: Eu penso que o mundo de amanhã não vai ser totalmente diferente do mundo de hoje. Mas também não vai ser totalmente igual. Vai ter mudança. Acredito que vai ocorrer uma aceleração de coisas que já estão despontando hoje em dia, como, por exemplo, o caso do home office. O home office já é corriqueiro para muitas empresas nos dias de hoje, mas não era para a grande maioria. Agora, com a pandemia, tende a se ampliar muito. Ainda sobre o home office, salientou: Então, o home office é uma grande alternativa tecnológica que o mundo digital está trazendo e acredito que nós vamos por esse caminho mesmo. Agora, não significa que todos vão se transformar assim. Muitas e muitas atividades vão continuar de modo convencional. Em primeiro lugar, elas não se ajustam ao home office, elas dependem da presença física. Então, uma linha de montagem sempre vai precisar de trabalhadores presentes. Na agricultura, sempre vai ser preciso alguém que dirija o trator ou que pelo menos dê um sinal para um trator que seja autodirigível. E assim por diante. Além do mais, não são todas as atividades que permitem o trabalho dessa maneira à distância, sem muita segurança. Nas atividades estratégicas da empresa, que envolvem às vezes confidencialidade, privacidade, a presença física das pessoas é muito importante. Referindo-se à incorporação de novas tecnologias e seus efeitos nas relações de trabalho, destacou: Outra tendência: cada vez mais o mundo está incorporando tecnologias e elas estão garantindo mais produtividade na maioria das atividades. No Brasil não é diferente, mas a produtividade aqui está muito atrasada. Existem vários fatores que travam a produtividade. Por exemplo, a organização das empresas. Uma empresa bem administrada é mais produtiva do que uma empresa mal administrada.
Ford, polarização e “capitalismo sem riscos” por: Prof. Luiz Alberto Machado

“A desindustrialização brasileira é resultado das intervenções equivocadas que fizemos. E o pior é que o setor empresarial, as lideranças do setor privado, apoiaram isso. A culpa não é só do Estado.” Marcos Lisboa[1] No final do ano passado gravei um comentário para o Podcast do Espaço Democrático com o título de Guerra de narrativas[2]. Nele, focalizei o clima de polarização reinante no Brasil, em decorrência do qual pontos de vista sobre praticamente qualquer tema eram tratados de forma dogmática. Ora, um dogma é, por definição, algo que não admite contestação. Nesse sentido, o debate de ideias, salutar e próprio de regimes democráticos, fica seriamente comprometido. O ano de 2020 ficou para trás. Um novo ano se iniciou, mas o clima de polarização continua o mesmo, coisa que, diga-se de passagem, não se restringe só ao nosso país. No excelente livro Boa economia para tempos difíceis[3], Abhijit Banerjee e Esther Duflo, ganhadores do Prêmio Nobel de Economia em 2019, destacam esse mesmo aspecto reinante nos Estados Unidos afirmando: Americanos de diferentes matizes políticos passaram a odiar intensamente uns aos outros. Em 1960, cerca de 5% dos republicanos e dos democratas diziam que se “sentiriam ‘contrariados’ se um filho ou filha se casasse com alguém do partido político rival”. Em 2010, quase 50% dos republicanos e 30% dos democratas diziam que se “sentiriam um tanto ou muito infelizes com a perspectiva de um casamento familiar interpartidário”. Em 1967, 33% dos democratas e dos republicanos achavam que um membro típico de seu próprio partido era inteligente, em comparação com 27% que tinham a mesma percepção sobre alguém do outro lado. Em 2008, esses números eram 62% e 14%! Exemplos dessa polarização no Brasil não faltam. A recém-anunciada desativação das fábricas da Ford em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE) sinalizando para a saída da montadora do Brasil foi alvo de manifestações acaloradas de todo tipo, o que é uma das características da realidade atual, fortemente influenciada pelas redes sociais[4] e pelos palpiteiros de ocasião. O ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, antecipou-se ao episódio, afirmando tratar-se da continuidade do desmantelo iniciado no governo de Dilma Rousseff, não interrompido pelos governos posteriores. Outros, mais radicais, chegaram a propor que o Brasil deveria encampar todas as fábricas da Ford no País, transformando-as em cooperativas administradas pelos próprios funcionários, inspirado, de certa forma, no que fez Evo Morales com as refinarias brasileiras na Bolívia e com a mudança nas “regras do jogo” da distribuição da energia produzida em Itaipu promovida pelo governo do Paraguai. O presidente Bolsonaro, por sua vez, acusou a Ford de estar interessada apenas em manter subsídios históricos, decidindo pela saída do Brasil por não ter seu interesse atendido. O que me espanta nessa discussão – afora a superficialidade dos argumentos, seu tom acalorado e a inconsequência das propostas – é a falta de perspectiva histórica das análises externadas. Caso existisse um mínimo de perspectiva histórica, ficaria evidente que houve no caso da Ford – e de outras empresas de diversos segmentos da indústria – uma reação à sequência de vícios típicos de um país que optou por uma espécie de “capitalismo sem riscos”, expressão consagrada pelo jornalista José Nêumanne. Aliás, é bom salientar que essa expressão, em muitos momentos, soa muito bem em ouvidos interesseiros de governantes, empresários e trabalhadores, ávidos por reservas de mercado, isenções fiscais, quotas, subsídios e outros favores que nada têm a ver com a lógica da concorrência. Como bem observou Eduardo José Monteiro da Costa, professor da UFPA[5]: A pandemia, com sua repercussão econômica, apenas agravou ainda mais a situação delicada da empresa, que já operava com elevada ociosidade em suas plantas industriais. Some-se a isto a atual imposição mercadológica de uma ampla reformulação tecnológica que as empresas automobilísticas estão fazendo nos últimos anos, a um custo elevado. Isto tem obrigado não somente a Ford, mas as empresas automobilísticas de uma forma geral a reavaliarem as suas estratégias globais de produção. Capitalismo é isso. É o império da concorrência. Quem também enveredou por essa linha de análise foi José Márcio Camargo[6], professor da PUC-RJ, que destacou o desvirtuamento provocado pela extensão indefinida dos benefícios que tiveram origem na política de substituição de importações: A Ford cresceu no Brasil a partir das políticas de substituição de importações adotadas pelo governo brasileiro na década de 50 do século passado. Essas políticas foram baseadas numa forte proteção do mercado interno por meio de proibições de importações e elevados níveis de tarifas e subsídios. A ideia era que, como o mercado era pequeno, se comparado ao de países desenvolvidos, e a tecnologia apresentava elevados retornos de escala, ou seja, os custos unitários caíam rapidamente com o aumento da produção, para competir era fundamental reservar o mercado interno e subsidiar as empresas instaladas no País. Em teoria, seria uma proteção transitória, até que as empresas conseguissem adquirir um tamanho suficiente para se tornarem competitivas. […] Entretanto, junto com o crescimento do setor veio o poder político, e com ele a proteção e os subsídios nunca acabaram. Com a proteção e os subsídios, a competição não veio, e, sem competição, o incentivo para investimentos em inovações tecnológicas e aumento da competitividade não aconteceu, tornando o setor tecnologicamente obsoleto. Os sucessivos adiamentos no encaminhamento de reformas estruturais contribuem também para que o País mantenha um péssimo ambiente de negócios, este sim um fator preponderante não só para decisões como a da Ford, mas também para que o nível de investimento no Brasil seja muito inferior ao observado em países que competem conosco na economia mundial. Como bem observa José Márcio Camargo: “A saída da Ford é um aviso de que é fundamental fazer as reformas e criar marcos regulatórios capazes de atrair investimentos privados, se quisermos efetivamente preservar nosso sistema produtivo. Sem elas, caminhamos para o retrocesso econômico”. Por: Luiz Alberto Machado – Diretor adjunto na Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial [1] LISBOA, Marcos. Lições da saída da Ford do Brasil. Entrevista a Geraldo Samor e Pedro Arbex. Disponível em https://braziljournal.com/marcos-lisboa-licoes-da-saida-da-ford-do-brasil.