Pesquisa aponta que nove em cada dez organizações têm sistema para investigação; há discrepância de punições aplicadas a diretores e funcionários
Medidas contra fraudes são tópicos centrais nas políticas de gerenciamento de riscos das empresas brasileiras. De acordo com a pesquisa Vigilância contra fraudes no Brasil – Estruturas de combate e tratamento a incidências, realizada a partir de dados compilados pela Deloitte, mais de 70% das empresas adotam práticas de prevenção, detecção e investigação de fraudes no ambiente corporativo.
Nove em cada dez organizações entrevistadas contam com algum sistema ou ferramenta para investigação de fraudes e 69% identificaram ocorrências de fraude nos últimos quatro anos. “Fraude é um tema de relevância e está na pauta dos conselhos, comitês, auditorias e executivos das organizações”, afirmou o sócio líder da área de Risk Advisory da Deloitte, Alex Borges, no evento de apresentação da pesquisa na terça-feira (25 de junho), na sede do IBGC, em São Paulo. A comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do IBGC, juntamente com o Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil) e a Associação de Examinadores Certificados de Fraudes do Brasil (ACFE Brasil), apoiou o levantamento.
Apesar de o combate à fraude ser uma questão importante nas empresas, a pesquisa revela que as normas de punição dos responsáveis pelas irregularidades precisam ser mais bem definidas. Mais de 40% dos respondentes indicaram ter política de consequências, ou seja, adotam procedimentos e punições para o tratamento de fraudes identificadas.
As demissões com justa causa são o tipo de punição mais frequente entre as empresas participantes. Existe uma diferença significativa nesse tipo de demissão entre colaboradores de nível operacional e gerencial. No caso de fraudadores que ocupam posições de nível tático (média gerência ou superior), 37% deles foram demitidos com justa causa. Quando o fraudador é de nível operacional, 62% deles receberam essa punição.
Também existe discrepância nas apurações dos impactos das irregularidades de acordo com o nível hierárquico do fraudador. Quando a fraude foi cometida por um diretor, 60% dos respondentes não souberam ou não responderam quais foram as consequências das irregularidades (as outras opções eram perdas financeiras, perda de imagem, sanções e multas e processos jurídicos). Quando o fraudador é de nível operacional, apenas 23% dos respondentes não souberam ou não responderam. “Falta conhecimento claro sobre qual a natureza das fraudes e qual a responsabilidade de diretores e c-level dentro das organizações. O executivo sai da empresa e pouco se fala sobre o assunto”, avaliou Borges.
Segundo o doutor e autor de artigos científicos sobre fraudes e corrupção Renato Santos essa baixa punição de executivos e gerentes pode passar a sensação de impunidade. “Os casos de fraudes cometidos por gestores são os que chamam mais atenção, pois todos ficam sabendo. Se o fraudador saiu da empresa e ainda ganhou os 40% do FGTS [benefício de quem é demitido sem justa causa], isso aumenta a disposição ao risco de quem estiver disposto a cometer uma fraude. As políticas e medidas disciplinares devem valer para todos os níveis hierárquicos”, analisou.
A existência de políticas antifraudes não é suficiente se elas não forem internalizadas e aplicadas por todos da organização. A cultura organizacional é um dos mecanismos mais efetivos de prevenção. “As empresas precisam saber se seus códigos de conduta e políticas anticorrupção são realmente efetivas”, comentou a coordenadora da comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do IBGC e diretora de Riscos da Serasa Experian, Luciana Bacci.
Para verificar a efetividade das políticas, Luciana ressaltou a importância dos testes de conduta, que ainda são pouco aplicados pelas organizações. De acordo com a pesquisa, apenas 20% delas adotam essa ferramenta. “Testando o conhecimento das políticas e aplicando sanções se melhora a cultura. Isso faz com que toda a organização acredite que as suas políticas de integridade são para valer”, disse Luciana. O presidente da ACFE Brasil, Claudio Peixoto, reforçou que o comportamento refratário a qualquer tipo de irregularidade deve vir da liderança.
A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019. Participaram do estudo 113 organizações de diversos setores e de todas as regiões do Brasil. O levantamento foi feito pela Deloitte com apoio da comissão de Gerenciamento de Riscos Corporativos do IBGC, do Instituto dos Auditores Internos do Brasil (IIA Brasil) e da Associação de Examinadores Certificados de Fraudes do Brasil (ACFE Brasil).
Fonte:
https://www.ibgc.org.br/blog/pesquisa-fraude-deloitte