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Compliance: Transparência e ética

(Conselho Regional de Administração) Nunca se falou tanto sobre corrupção e ações fraudulentas como ultimamente. Um tema sempre recorrente no Brasil e no mundo, mas que ganhou destaque devido às inúmeras denúncias no âmbito político e econômico brasileiro, gerando um debate muito amplo sobre o que é necessário para que empresas e profissionais consigam desempenhar suas atividades de forma transparente e responsável. Se por um lado as revelações de suborno, desvios de dinheiro público, caixa dois e demais formas ilícitas alarmaram a sociedade, por outro serviram para mostrar que é necessário maior engajamento e políticas efetivas dentro e fora das organizações. Mais do que isso,
deixou clara a importância de se debater esse problema no seu aspecto mais amplo
envolvendo, principalmente, a ética.

Dentro das organizações, muitos fatores podem contribuir para que desvios aconteçam e esse é um cenário que precisa ser trabalhado constantemente entre todos os colaboradores. No entanto, essa questão pode ser muito subjetiva na medida em que os
profissionais possuem motivações e valores próprios, que devem ser identificados antes
da sua contratação. “É possível avaliar o perfil ético de um colaborador ou candidato
analisando a resiliência da pessoa em meio às adversidades e provações às quais pode
ser exposta ao se deparar com alguns dilemas. Isso permitirá avaliar a rapidez com que
ela se recupera de uma possível tentação em cometer uma fraude ou assédio, caso essa
situação seja relevante para ela a ponto de tornar-se uma dúvida. Quanto mais rápida é a
recuperação, mais resiliente a pessoa tende a manter sua integridade, porém, em casos de
extrema rapidez, também pode haver indícios de indiferença ao tema. Uma vez identificado
o grau de resiliência é possível aplicar um plano individual de desenvolvimento”, explica Reinaldo Almeida dos Santos, professor do MBA em Gestão de Riscos e Compliance da Trevisan Escola de Negócios.

Programas de Compliance Muitas vezes deixados em segundo plano nas organizações,
os programas de compliance agora ganham destaque e têm sido difundidos até mesmo
em pequenos negócios, como forma de eliminação dos riscos

“O compliance vai além de combinar e cumprir, e sim estar o tempo todo observando, garantindo e checando se aquilo que foi combinado está sendo feito”

No entanto, o termo, que de maneira geral significa agir em sintonia com as regras, precisa
de um melhor entendimento na prática. “Com as questões da Lava a Jato, o termo compliance está sendo usado de forma mais coloquial, como se fosse a solução para tudo. Voltou-se a uma ação mais policialesca e menos construtiva da prática. Por exemplo: nós, enquanto administradores, montamos um plano estratégico, discutimos com os stakeholders, analisamos as pesquisas de mercado, contratamos consultorias internacionais e montamos um plano para os próximos três anos. O compliance significa cumprir o que foi combinado, garantir que aquilo que foi decidido está sendo feito. Hoje, nos tempos da Lava a Jato, se mistura um pouco o que é compliance com ética e código de conduta, mas ele não é só isso”, defende o Adm. Herbert Steinberg, consultor da MESA Corporate Governance.
Steinberg esclarece que a implantação deste tipo de programa precisa ser, de fato,
absorvido pela organização e seus colaboradores. “O fato das empreiteiras agora criarem agora um código de conduta ou deixarem um sistema de compliance visível não fez
nenhuma mudança na essência. É quase um check-list, como se dissessem “olha, agora eu tenho compliance”. Significa que agora, supostamente, as regras serão cumpridas, mas vale lembrar que estas normas já existiam. Então, a prática vai além de combinar e cumprir, mas sim estar o tempo todo observando, garantindo e checando se aquilo que foi combinado como uma regra é, realmente, feito”, esclarece.
É necessário, porém, não generalizar e lembrar que m u i t a s o r g a n i z a ç õ e s j á
disseminavam as boas práticas do compliance muito antes dos escândalos de corrupção virem à tona. “Existem as empresas que já instalaram um programa anos atrás e hoje estão bem preparadas, com colaboradores treinados nos temas mais relevantes para a empresa. Já em outro grupo, o processo ainda é embrionário. Nestes casos,
também existe desconhecimento e muitas vezes até aversão à mudança. Infelizmente
muitos profissionais pensam que compliance vem de complicar e é claro que no começo
haverá transformações nos processos e controles internos, que poderão desagradar
muitas pessoas. No entanto, cada mudança traz a necessidade de sair de caminhos usados e entrar em novos trajetos.
Isso muitas vezes é difícil para pessoas, mas essencial para uma empresa adotar uma cultura efetiva de compliance”, defende Christian de Lamboy, sócio-diretor do Instituto ARC, especializado em Auditoria, Gestão de Risco e Compliance.

“O compliance é uma importante estratégia de competitividade e atratividade do negócio,
pois a sociedade global vem, cada vez mais, conscientizando-se em relação ao consumo
sustentável e ético, exigindo das organizações posturas e comportamentos que reflitam
esses valores. A existência de um programa de compliance, na medida em que torna mais
segura e transparente a realização de negócios, aumenta a confiança e atratividade dos
investidores e financiadores, reduzindo consideravelmente o custo do capital e aumentando
o valor de mercado da empresa, com benefícios diretos para os sócios. Estudos comprovam
que o grau de satisfação das pessoas, de fidelização, comprometimento e rendimento do
trabalho é maior dentro de empresas com forte cultura ética, melhorando o ambiente organizacional e retendo talentos. A difusão de boas práticas de governança corporativa amplia a coesão do público interno, gerando uma melhoria de produtividade contínua”, defende Lamboy.
Por Katia Carmo

https://www.crasp.gov.br/admpro/conteudo/RAP_371_WEB.pdf

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