Ganhei poder, e agora?

A maioria dos gestores e gestoras se tornam líderes sem terem se preparado para isso. Assume o poder e não sabe como exercê-lo. Analisamos um mapa para quem deseja capacitar-se a atingir o potencial para a grandeza desse desafio com mais consciência e sabedoria: o modelo “Alma da Liderança”, de Deepak Chopra.

Você já foi surpreendido por um convite ou convocação para assumir um cargo de liderança se sentir-se preparado para isso. Muitos de nós somos tomados de surpresa quando uma situação inesperada nos retira de um cargo técnico ou administrativo para assumir de uma hora para outra uma função gerencial. Como lidar com essa situação? Como se comportar no novo cargo de gestor?

Apresentamos neste artigo um mapa que pode ajudar a guiar o comportamento dos líderes em sua primeira experiência, capacitando-o a atingir o potencial para a grandeza com mais consciência e sabedoria: o modelo Alma da Liderança.

No livro “A alma da liderança”, Deepak Chopra, autor indiano consagrado pela sua capacidade de transformar a vida das pessoas com ensinamentos que unem vida material e espiritual, utiliza o acrônimo L-E-A-D-E-R-S (líderes, em inglês), para conceber um modelo de excelência na liderança.

Chopra é um dos gurus mais conhecidos na área da espiritualidade e da medicina corpo-mente. Autor de mais de 25 livros de autoajuda, seu best-seller “As Sete Leis Espirituais do Sucesso” já foi lido por milhões de executivos e celebridades que conseguiram prosperidade, sucesso, equilíbrio entre suas vidas pessoal e profissional.

Escolhido como uma das 100 personalidades do Século XX pela Revista Time, em 1999, sua proposta de autoajuda é centrada na afirmação “se compreendermos a nossa verdadeira natureza e soubermos viver em harmonia com as leis naturais, a sensação de bem-estar, de entusiasmo pela vida e a abundância material surgirão facilmente”.

Para Chopra, ser um bom líder significa incorporar a alma e o espírito das pessoas que você lidera. Os líderes mais eficazes refletem os valores e princípios que sua equipe preza, com altos níveis de moral, visão, criatividade e senso de comunhão com as pessoas. Na verdade, isso pode ser uma tarefa difícil, especialmente se você estiver entrando no papel pela primeira vez.

O caminho está aberto para que todos desenvolvam tais qualidades. Com sua visão hinduísta, Chopra adverte que a única condição é que aprendamos a ouvir o nosso guia interior.

Comentamos aqui as 7 características essenciais, com as iniciais L-E-A-D-E-R-S, para você guardar consigo no seu smartphone:

1. Look and Listen (Escute com os olhos)

A ideia de olhar e escutar, ou como eu prefiro dizer “escutar com os olhos”, é praticar verdadeiramente a escuta ativa. Ter a orientação total para o próximo. Dedicar sua atenção totalmente para o seu colaborador, chefe ou cliente – enfim, o seu interlocutor.

Quando você está em uma posição de gestão e liderança, reserve um momento para olhar em volta e perceber o que está ao seu redor. Em que as pessoas do seu time estão priorizando e gastando seu tempo? Pode até ajudar a agendar reuniões individuais com cada pessoa da sua equipe. Isso ajudará você a se manter informado ao estabelecer uma visão de onde deseja que sua organização esteja e alinhar os princípios e valores da equipe.

Ao transformar a atenção para dentro e ouvir internamente, você pode desenvolver um profundo senso de propósito.

Esta atitude reflete a Sétima Lei Espiritual do Sucesso, “a Lei do Propósito de Vida”. Todos têm um propósito na vida… algo único para dar aos outros. E quando misturamos este talento com o serviço aos outros, experimentamos o êxtase de nosso próprio espírito, o que é objetivo último de todos os objetivos, explica Chopra. Primeiro, devemos descobrir nosso verdadeiro eu: depois, expressar nossos talentos especiais; e finalmente, usar este nosso dom para servir a humanidade. O líder deve ser um servidor!

A visão da “Liderança Servidora”, de James C Hunter, e outras abordagens recentes sobre o papel do líder como alguém que tem o papel de servir a um propósito maior segue essa lei.

Já ouvi de muitos gestores que eles descobriram seu propósito de vida depois de estar no exercício do cargo e que sentiam que aquela era sua verdadeira vocação. Um deles por exemplo, gerente de treinamento, me disse que seu propósito era “ajudar as pessoas no seu desenvolvimento pessoal e profissional”.

2. Emotional Bonding (Conecte-se emocionalmente)

Líderes respeitados dedicam tempo para construir relacionamentos significativos com seus colegas e equipe. Eles perguntam sobre as famílias daqueles com quem trabalham, mas tem cuidado também para não perguntar nada muito pessoal. Conhecem seus limites.

Líderes com laços emocionais lembram dos aniversários, perguntam sobre como está sendo o dia de seus colaboradores e agendam um almoço ou reunião sempre que podem com cada um de seus colaboradores para responder a perguntas ou estreitar relacionamento.

Eles compartilham histórias pessoais de sua vida. Deixam as pessoas verem quem eles realmente são – não como autocratas ou indivíduo frios e distantes, mas como pessoas relacionáveis e de igual valor.

Essa atitude é essencial para liderança, como afirma Chopra. Afinal, sabemos que o relacionamento interpessoal é a base para a confiança. E que este, por sua vez, sustenta a liderança. Um líder será respeitado se tiver esta ligação emocional com seus seguidores.

Um de meus clientes notou que sua influência na equipe aumentou quando passou a participar do happy hour que alguns funcionários faziam semanalmente. Antes ele não participava pois tinha medo que aquilo tiraria sua autoridade sobre aqueles funcionários.

3. Awareness (Tenha Conhesciência)

Como líder, você deve ter consciência situacional, o que significa simplesmente ser observador de seu entorno imediato. Estar consciente, atento e ciente ajudará você a obter informações críticas para o seu sucesso. Você pode melhorar sua compreensão conversando regularmente com seus colegas por meio de reuniões recorrentes, lendo sobre sua organização nas notícias e “percorrendo os corredores” de sua empresa para saber mais sobre o que está na mente das pessoas.

Chopra chama a atenção para a adequação ao ambiente, uma noção de presença (“estar totalmente presente”) e ter sensibilidade para perceber o que acontece a nossa volta. Na perspectiva do conceito de “mindfullness”, o líder deve estar com atenção total e integrado perfeitamente com seu contexto ambiental: deve conhecer seu time e as diferenças individuais, seu departamento e como este agrega valor ao negócio, saber o que faz cada área, e compreender o propósito e significado da organização no mercado. Deve entender as necessidades e desejos do cliente e da comunidade. Precisa conhecer a concorrência, o mercado e a economia. Ter uma visão holística e entender o funcionamento de sistemas complexos.

A primeira Lei Espiritual do Sucesso, a “Lei da Potencialidade Pura” afirma que a fonte de toda criação é a consciência pura ou pura potencialidade buscando a expressão do não-manifesto para o manifesto. Com a prática diária do silêncio, da meditação, e do não-julgamento, e com a percepção de que nosso verdadeiro “eu” é de pura potencialidade, nós nos alinhamos com o poder que tudo manifesta no Universo e obtemos o que desejamos.

Podemos associar ainda este traço a Inteligência Emocional, uma habilidade cada vez mais essencial não só para liderança, mas para qualquer função e profissão, e que tem assumido maior importância dentre as softskills ultimamente.

O empreendedor social, vencedor do Nobel da Paz e fundador do Banco Grameen, Muhammad Yunus, teve essa consciência ao perceber a realidade dos indianos pobres de falta de acesso ao empréstimo bancário quando desenvolveu um modelo de microcrédito inovador e exemplar.

Nesta atitude, inclui-se também a autoconsciência (“Self Awareness”). O autoconhecimento é essencial para o sucesso de um líder. Deve-se, portanto, enfatizar que o líder começa gerenciando a si mesmo. Faça perguntas sobre você: Quais são seus valores? Quais são seus pontos fortes? Que pontos você precisa desenvolver? Quais os hábitos que preciso mudar? Ter autoconsciencia e se autogerenciar é a base do seu sucesso como líder!

4. Do (Faça)

Líderes devem agir. Se você precisa tomar uma decisão, não analise apenas uma situação, pois isso pode resultar em uma paralisia quando nenhuma decisão é tomada.

Ouvir seus colegas e formar laços emocionais profundos lhe dará clareza e confiança para implementar decisões inteligentes. Quando você realiza uma ação, outras pessoas notarão.

Chopra sugere que o líder deve fazer acontecer. A própria etimologia da palavra liderar – vem de lead, que quer dizer, “guiar, mostrar o caminho” – revela que o líder é alguém que age, não fica imóvel. O pior defeito de um líder é a omissão, a insegurança, a paralisia.

O líder que faz senta-se junto com a equipe, não fica fechado em uma sala isolado. Napoleão Bonaparte desde que era Tenente até quando chegou a General sempre corria ao lado dos soldados, na frente, o que transmitia orgulho e confiança aos liderados.

Na visão do autor indiano, ouvir o time traz clareza. A clareza é obtida pelo acesso as informações, pelo Big Data, pela cooperação e coleta de dados. Associando esta prática ao modelo do Mundo VUCA – ambiente Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo do mundo hoje, a Clareza se refere a letra C do antídoto para a letra C do ambiente “Complexo” que vivemos. No artigo 6 Estratégias para prosperar no contexto VUCA você pode ler mais sobre o Mundo VUCA e seu antídoto.

5. Empowerment 

Nunca deixe o poder chegar à sua cabeça. Deixe que outras pessoas tomem decisões por si mesmas. Ao confiar nos membros de sua equipe, você permite que eles cresçam e determinem o caminho certo. Quando as pessoas conquistam para si mesmas, elas sentem um sentimento de realização pessoal. Muitas vezes, você pode definir a prioridade e permitir que sua equipe tome as decisões certas: “Vamos aumentar as vendas em 10%. Eu confio em você para chegar a um plano”.

É comum um líder novato sentir-se um pouco inseguro diante de sua nova equipe. Por isso, ele quer demonstrar segurança tomando todas as decisões de modo diretivo. É o contrário: quanto mais participativo, delegador e envolvente, mais sucesso ele obterá!

Estar empoderado significa também que você é aberto e receptivo ao feedback, mas não guiado pelas opiniões de outras pessoas. Você se coloca no mesmo nível quando se relaciona com os outros.

Uma das 5 Práticas da Liderança pelo Exemplo, de Pouzes e Kosner, autores de “O Desafio da Liderança” é “Habilite os outros para a ação”. Líderes extraordinários sabem que o sucesso da liderança envolve o engajamento e a autonomia dos colaboradores para terem autodeterminação, ideias criativas e desenvolverem competências para seu crescimento pessoal e alta performance organizacional. Para conhecer mais sobre as 5 práticas, leia nosso artigo 5 Práticas para aperfeiçoar sua capacidade de liderança.

6. Responsibility (Responsabilidade)

Os líderes precisam não apenas fazer as melhores escolhas para si e para suas equipes, mas sua maior responsabilidade é inspirar uma maior consciência nos que os rodeiam.

A responsabilidade termina com você como líder. Se algo der errado, o líder deve ser o primeiro a prestar contas. Nunca tenha medo de dizer: “Eu cometi um erro”. Quando sua organização percebe que você é capaz de admitir falhas, você incutirá uma cultura mais indulgente na qual as pessoas são mais honestas e menos receosas de falhar ou falar.

Conheço um diretor de RH que diz que devemos tolerar e relativizar os erros na empresa, pois a intolerância ao erro desmotiva a ousadia e mata a vontade das pessoas de arriscar e inovar. Além disso, os erros podem ser excelentes professores para o desenvolvimento profissional.

O líder novato está aprendendo e erros naturalmente poderão acontecer. Portanto, evite a autocobrança exagerada que poderá afetar seu equilíbrio emocional e prejudicar suas decisões. Lembre-se: a liderança é uma jornada evolutiva!

A responsabilidade é uma competência inerente a função da gestão e liderança, como Chopra destaca. Assumir de maneira ética, autêntica e com integridade o papel e as funções da liderança fazem parte do núcleo central de um bom líder.

O líder responsável é previdente, faz prognósticos e análise de riscos. Ele não tem medo de assumir sua responsabilidade. Ele sabe dos riscos inerentes ao seu trabalho, dos erros que são passíveis de acontecer. Ele tem autoconsciência e autogerenciamento no processo de desenvolvimento pessoal e profissional.

7. Synchronicity (Sincronicidade)

Essa capacidade enigmática significa “estar em sincronia com o universo”. As pessoas que “têm a capacidade de criar boa sorte e receber apoio invisível” estão entrando no “campo universal da consciência”, diz Chopra, que é um aspecto fundamental da vida.

Quando você lidera com sua alma, irradia sentimentos positivos. Como resultado, pequenos presentes aparecerão em seu caminho. Talvez um colega se inspire na sua visão e vá além. Ou o seu sucesso como líder lhe renderá reconhecimento em todo o setor. Ao plantar sementes, você verá o florescimento de oportunidades. Isso é sincronicidade – quando coisas boas não relacionadas começam a acontecer.

Podemos vincular a sincronicidade a Lei Espiritual da Intenção e do Desejo. Segundo Chopra: “Inerente a toda intenção e desejo, está a mecânica para a sua realização. E quando colocamos uma intenção no campo da pura potencialidade, colocamos este poder organizador infinito para trabalhar para nós”. No nível da mecânica quântica, o universo é uma extensão de nosso corpo, e nossa intenção detona transformações de energia e informação, e organiza sua própria realização.

Lembramos também que em culturas fortes onde a visão e os valores são compartilhados intensamente e onde a intuição é estimulada, o ambiente organizacional tende a favorecer o clima para a sincronicidade.

Em nossos cursos e treinamentos de liderança, como o Curso Gestão Estratégica e de Pessoas sempre enfatizamos que o líder é um ser integral e que seu desenvolvimento envolve quatro dimensões: as dimensões física, mental, psicossocial e espiritual. Nesta perspectiva holística, seu sucesso só se concretiza totalmente se todas as dimensões forem desenvolvidas de maneira equilibrada. A visão de Chopra contribui sobremaneira para esta perspectiva.

Eeste artigo foi originalmente publicado no portal Administradores.com sob o título Fui promovido a gerente, e agora? em 02/02/2019.

Marco A. Morsch é fundador da Morsch Consulting e consultor parceiro da Ge.company, palestrante, autor e professor de administração da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

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